Ah, Duberot. Quantas coisas eu vejo através dele. Meu primeiro quarto, as tias da creche, o toca-discos do Mickey (aqueles pra discos pequenininhos), a minha vizinha que comia cola... Não é incrível como Duberot esteve presente nas nossas vidas? O que, vai dizer que você não sabe quem é Duberot? Ora, faça-me rir. Talvez não esteja associando agora, mas eu lhe refresco a memória. Duberot poderia ter sido um filósofo francês, importantíssimo. Criador da teoria do Caos da Prosódia, amigo e tutor de Sartre, a quem teria emprestado alguns de seus versos. Poderia ter sido também um prato fino. Comeríamos Duberot ao molho de trufas, acompanhado de um Dom Perignon em alguma noite de comemoração. Nas versões menos refinadas, Duberot seria o nome de um cabaré chique, para o qual rapazes se desesperariam a fazer identidades falsas. Ou, quem sabe, pudesse ser apenas um arroto leve, depois do qual diríamos:
− Desculpe, duberrei.
Mas não, Duberot preferiu enobrecer a nossa infância com música e risadas. Preferiu unir nossas mãos, fazer a poeira subir ao rosto, borrar nossos olhos de estrelas. Todavia, confesso que, apesar de tudo, Duberot me trouxe uma grande decepção. Comigo mesma, em primeiro lugar, por ter levado vinte anos da minha vida pra descobrir quem ele era, de fato.
Pior do que descobrir que o meu Q.I. não era lá o mais alto do bairro, foi descobrir o que até então me era muito confortável não saber. Pra quê? Eu estava tão afeiçoada à ignorância. Aliás, sou afeiçoada ao desconhecimento em uma série de coisas. A ignorância é o lar seguro da ingenuidade. É aquela casinha branca, onde se vive de poesia, de mistério, de fábula, de idéias despretensiosas, contentes por si. (Ok, piegas, mas e daí?). Gosto de ignorar a coluna policial, a coluna social e um bando de teorias. Gosto de ignorar o futuro, era o que me faltava cartomante vir contar final de livro que eu ainda nem escrevi. Adoro os absurdos de butiquim, nos quais a gente afirma de forma veemente coisas sobre as quais não faz a menor idéia. Me divirto pacas até que alguém embase teoricamente o argumento contrário, afirmando que todos os livros do fulano provam que... enfim.
Duberot por si só já era suficiente para eu me apegar à ignorância. Tudo o que sentia ao ouvi-lo era alegre e doce. Podia enxergar o joão-bobo que eu tinha no quarto e sentir o gosto da sopa de feijão da minha avó. Podia me ver pulando no meio da roda, feliz e rindo ao final, quando me atirava no chão. Agora, rá, agora fico pensando que mal sabia eu que gargalhava e sapateava as custas do desespero de um pobre bicho. Que Isso não é coisa que se ensine pra criança, que não quero passá-lo adiante e que preciso montar uma estratégia para não ter que contar esse clássico para os meus filhos. Tudo isso porque achei uma porcaria de encarte de cd, onde dizia: “...do berro/ do berro que o gato deu/ miau”. A partir daí, virei uma chata de galocha. Quero não saber que peito cai, que bolo de chocolate engorda e que o Keanu Reeves é veado. Quanto ao Papai Noel, posso até perdoar. Mas Duberot, que se dane!
− Desculpe, duberrei.
Mas não, Duberot preferiu enobrecer a nossa infância com música e risadas. Preferiu unir nossas mãos, fazer a poeira subir ao rosto, borrar nossos olhos de estrelas. Todavia, confesso que, apesar de tudo, Duberot me trouxe uma grande decepção. Comigo mesma, em primeiro lugar, por ter levado vinte anos da minha vida pra descobrir quem ele era, de fato.
Pior do que descobrir que o meu Q.I. não era lá o mais alto do bairro, foi descobrir o que até então me era muito confortável não saber. Pra quê? Eu estava tão afeiçoada à ignorância. Aliás, sou afeiçoada ao desconhecimento em uma série de coisas. A ignorância é o lar seguro da ingenuidade. É aquela casinha branca, onde se vive de poesia, de mistério, de fábula, de idéias despretensiosas, contentes por si. (Ok, piegas, mas e daí?). Gosto de ignorar a coluna policial, a coluna social e um bando de teorias. Gosto de ignorar o futuro, era o que me faltava cartomante vir contar final de livro que eu ainda nem escrevi. Adoro os absurdos de butiquim, nos quais a gente afirma de forma veemente coisas sobre as quais não faz a menor idéia. Me divirto pacas até que alguém embase teoricamente o argumento contrário, afirmando que todos os livros do fulano provam que... enfim.
Duberot por si só já era suficiente para eu me apegar à ignorância. Tudo o que sentia ao ouvi-lo era alegre e doce. Podia enxergar o joão-bobo que eu tinha no quarto e sentir o gosto da sopa de feijão da minha avó. Podia me ver pulando no meio da roda, feliz e rindo ao final, quando me atirava no chão. Agora, rá, agora fico pensando que mal sabia eu que gargalhava e sapateava as custas do desespero de um pobre bicho. Que Isso não é coisa que se ensine pra criança, que não quero passá-lo adiante e que preciso montar uma estratégia para não ter que contar esse clássico para os meus filhos. Tudo isso porque achei uma porcaria de encarte de cd, onde dizia: “...do berro/ do berro que o gato deu/ miau”. A partir daí, virei uma chata de galocha. Quero não saber que peito cai, que bolo de chocolate engorda e que o Keanu Reeves é veado. Quanto ao Papai Noel, posso até perdoar. Mas Duberot, que se dane!