Quando desceu do ônibus, não precisou certificar-se de que aquele era o seu destino. Olavo o descrevera com rigor:
– Uma cidade dormitório, Tadeu, uma coisa inchada e encardida.
Não havia estação rodoviária, o mínimo que se espera de uma cidade que não seja apenas um vilarejo disfarçado. Tadeu teve que descer em uma parada lotada, à beira daquela larga faixa de asfalto que fatiava a cidade. Fatias que se equiparavam em atrocidade arquitetônica: imperavam venezianas em plástico que um dia foi branco e paredes salpicadas, pintadas em bege – essa cor horrenda que não se sabe branca nem suja –, e basaltos acachapantes. Ali não havia nada que não fosse absolutamente quadrado, tedioso.
A posição de Tadeu era muito boa. Junto a Olavo, tinha um dos maiores salários da empresa, gerenciando três fábricas da gigante calçadista Schumacher, apenas pela Internet e pelo telefone. No ano de 2007 porém, a fábrica de Lindolfo Collor teve uma queda de produtividade, ameaçando os lucros da Companhia. Antes de uma atitude mais drástica, Tadeu foi mandado para a cidade, para tentar solucionar o problema.
No dia seguinte à chegada, após uma noite na única pousada − se é que assim se podia chamar − do local, Tadeu foi a pé até a fábrica. No caminho, já respirando o fedor de borracha, parou para observar as ruas. As casas sem jardim não lembravam em nada uma cidade do interior. Sequer havia pássaros, já que também não havia árvores. Uma pequena construção, onde se lia “Escola municipal”, tinha as portas trancadas. Na rua não se viam bolas ou bonecas. As cores, o silêncio, tudo parecia indiferente.
Tadeu acompanhou o dia dos funcionários, analisando suas atividades, que iniciavam às seis horas e terminavam às vinte. (Para dados de carteira, eram assinadas apenas oito horas de trabalho). Em Lindolfo Collor, as leis não chegavam. Nem as reclamações. Agradecia-se a Deus por um emprego.
À noite, apesar de exausto, Tadeu aceitou o convite para jantar na casa de Carlos, o sub-gerente da fábrica. Sua esposa, que também trabalhava lá, iniciou rapidamente o jantar assim que chegaram, como de costume. Tadeu aproveitou-se das conversas para investigar os problemas e os costumes dos funcionários, enquanto comiam o ensopado de chuchu. Depois, já que era uma sexta-feira, foi convidado a jogar um pouco de canastra.
No sábado, depois de analisar vários dados, Tadeu acreditou ter encontrado o problema. Passou horas escrevendo um projeto que previa a motivação dos funcionários. Demandava um valor razoavelmente alto, mas que seria, certamente, recompensado.
Depois de aprovado pelo presidente, o projeto foi lentamente sendo concretizado. De fato, a fábrica aumentou um pouco seus números de produtividade. Tadeu ficou orgulhoso porque com o projeto, não só acabou sendo promovido, como conseguiu mudar a vida daquelas pessoas. Agora elas têm uma rodoviária. E às vinte horas, quando saem do trabalho, conseguem até ver as luzes da nova praça da cidade. E então vão dormir em suas lindas casas amarelas, azuis e verdes.
– Uma cidade dormitório, Tadeu, uma coisa inchada e encardida.
Não havia estação rodoviária, o mínimo que se espera de uma cidade que não seja apenas um vilarejo disfarçado. Tadeu teve que descer em uma parada lotada, à beira daquela larga faixa de asfalto que fatiava a cidade. Fatias que se equiparavam em atrocidade arquitetônica: imperavam venezianas em plástico que um dia foi branco e paredes salpicadas, pintadas em bege – essa cor horrenda que não se sabe branca nem suja –, e basaltos acachapantes. Ali não havia nada que não fosse absolutamente quadrado, tedioso.
A posição de Tadeu era muito boa. Junto a Olavo, tinha um dos maiores salários da empresa, gerenciando três fábricas da gigante calçadista Schumacher, apenas pela Internet e pelo telefone. No ano de 2007 porém, a fábrica de Lindolfo Collor teve uma queda de produtividade, ameaçando os lucros da Companhia. Antes de uma atitude mais drástica, Tadeu foi mandado para a cidade, para tentar solucionar o problema.
No dia seguinte à chegada, após uma noite na única pousada − se é que assim se podia chamar − do local, Tadeu foi a pé até a fábrica. No caminho, já respirando o fedor de borracha, parou para observar as ruas. As casas sem jardim não lembravam em nada uma cidade do interior. Sequer havia pássaros, já que também não havia árvores. Uma pequena construção, onde se lia “Escola municipal”, tinha as portas trancadas. Na rua não se viam bolas ou bonecas. As cores, o silêncio, tudo parecia indiferente.
Tadeu acompanhou o dia dos funcionários, analisando suas atividades, que iniciavam às seis horas e terminavam às vinte. (Para dados de carteira, eram assinadas apenas oito horas de trabalho). Em Lindolfo Collor, as leis não chegavam. Nem as reclamações. Agradecia-se a Deus por um emprego.
À noite, apesar de exausto, Tadeu aceitou o convite para jantar na casa de Carlos, o sub-gerente da fábrica. Sua esposa, que também trabalhava lá, iniciou rapidamente o jantar assim que chegaram, como de costume. Tadeu aproveitou-se das conversas para investigar os problemas e os costumes dos funcionários, enquanto comiam o ensopado de chuchu. Depois, já que era uma sexta-feira, foi convidado a jogar um pouco de canastra.
No sábado, depois de analisar vários dados, Tadeu acreditou ter encontrado o problema. Passou horas escrevendo um projeto que previa a motivação dos funcionários. Demandava um valor razoavelmente alto, mas que seria, certamente, recompensado.
Depois de aprovado pelo presidente, o projeto foi lentamente sendo concretizado. De fato, a fábrica aumentou um pouco seus números de produtividade. Tadeu ficou orgulhoso porque com o projeto, não só acabou sendo promovido, como conseguiu mudar a vida daquelas pessoas. Agora elas têm uma rodoviária. E às vinte horas, quando saem do trabalho, conseguem até ver as luzes da nova praça da cidade. E então vão dormir em suas lindas casas amarelas, azuis e verdes.
Nas sextas-feiras, jogam canastra.