domingo, 28 de setembro de 2008

Trajeto Dominical

Os jacarandás abraçam delicadamente os passantes, emoldurando a avenida. Passos lentos intercalam calçada e rua onde grande concorrência busca o foco dos olhares.
Ipês, cedros, garaperas. Alguns em entalhe, alguns in natura, enternecem o ambiente com seu aroma bucólico. Balões e cata-ventos dançam suavemente na paisagem. Verdes, azuis, amarelos, doces algodões passeiam no alto, entre a multidão.
Caixas esperam chás, anéis esperam mãos. Índios transformam palha em cultura ocidental.
Sotaques.
Bruxas que não voam, mas flutuam. Flores que não crescem, mas bem sabem fingir. Quadros, vasos, fontes, bailarinas no ar.
Vinte e sete, quarenta, cinco, três por dez. Pechinchas. Conhecidos olás, gargalhadas. A mistura adocicada de incensos invade suave as narinas enquanto as estátuas se movem.
No vazio dos carros, outras rodas disputam espaço. Uns de capacete, outros com chocalhos. Dálmatas, poodles, labradores, pitbulls, rugas em coleiras desfilam com roupas e enfeites, enquanto vira-latas mendigam olhar.
Mais incensos. Mais abraços. O tilintar das pedras suspensas anuncia o abrandar do calor, enquanto o sol quadricula os rostos.
Um artista faz do asfalto tela. Outro, com seu velho número, ainda encanta. Neste lugar onde as folhas além de sombra, fazem música.
Na grama, nos bancos, a caminhar, o gosto amargo da erva traz o personagem que ora protagonista, ora coadjuvante, está presente em todas as histórias que se passam neste ou em outro domingo, no Brique da Redenção.